domingo, 24 de janeiro de 2010

... no meu bloco de notas ...





A história do meu bloco de notas.

O meu bloco de notas estava cheio de folhas em branco nas quais eu poderia escrever tudo o que desejasse... sobre o que desejasse e ... sobre quem desejasse.

Começava a escrever e nunca sabia qual era o instrumento da escrita, só no final da experiência e passados anos, por vezes, é que verificava se tinha sido a caneta, a lápis, à pena... (sim eu tinha e tenho uma caneta à antiga onde se molha a ponta num tinteiro de tinta permanente... "Pelikan"...)

É como se o bloco se escrevesse automaticamente e como naquele filme "O Tesouro" com sumo de laranja ou limão se molhava a folha e as letras apareciam magicamente, o meu bloco era o oposto... eu vou vivendo, amando e chorando e à medida que isso vai acontecendo as letras vão aparecendo.

Essas letras vão dando lugar a palavras e essas palavras lentamente vão formando frases e essas frases aos poucos vão contando a minha vida da minha perspectiva nessa altura.

Pois bem, hoje descobri que em algumas páginas da minha existência eu fiz questão de escrever e achava que estava a escrever com tinta permanente e depois... transformava a escrita em lápis, depois magicamente aparecia uma borracha (apaga lápis à lisboeta) e apagava tudo o que tinha escrito.

Agora, hoje, juntei uns quantos pontos comuns na trajectória da minha vida.

Nunca achei que era sensível, até pelo contrário... eu era a fortona, a inteligente, a decidida, a ambiciosa, a independente, a rapariga que não tinha amigas mas sim amigos (... "sim porque não se pode ter uma conversa normal com elas"...) e não sou...

... não sou a fortona, a decidida, a independente ... pelo menos não daquela forma... com aquela forma de que aquilo era a minha identidade... AH! lembrei-me da mais... "o que passou, passou!" ou como se costuma dizer... "toca a andar para a frente que atrás vem gente!"... pois....

... pois é... eu sempre fui sensível, super sensível... eu sou sensível, muito sensível...

Sempre me apaixonei com muita facilidade, sempre tive os meus namoricos, aventuras e encontros e grandes amizades ou não tinha amizades. Na realidade olho para trás e eu nunca tive o meio termo...

Tudo era vivido no máximo de intensidade, desde paixões avassaladoras de 3meses a relacionamentos que se arrastavam durante anos, claro com outros à mistura.

O que olho e vejo como repetitivo eram as atitudes de extremo que tinha e ainda há bem pouco tempo tive.

Nas grandes amizades eram as zangas em que deixava de falar durante meses... tive com dois grandes amigos na altura, o Tó e o Peixoto meses sem falar... era como se fosse uma batalha. Na realidade essas zangas/discussões sobre qualquer coisa magoavam tanto que cada vez que olhava para eles era como se a dor viesse novamente então... para mim era mais fácil curtar... e quando digo curtar era mesmo tudo... telefone, objectos pessoais, Bom dia e Boa tarde, eu nem olhava... era como se eu fingisse que ali... só havia um vazio...

Nessa hora quando a dor era tanta eu achava que escrevia no tal bloco e que o fazia a lápis, passava a borracha e fingia que a página ainda estava em branco... passado um tempo olhava para ele e reparava que a folha não estava completamente lisa... aquela folha...

Chegava então A Altura! A altura em que não aguentava mais de saudades e depois lá ia eu pedir desculpas e fazer uma tentativa de aproximação. Ainda me lembro do chão do Ad-hoc de joelhos a falar o quanto ele me fazia falta... o meu grande amigo e o beijo da reconciliação...

Ao longo de toda a minha vida fui sempre fazendo isso... nunca soube lidar com a dor, com a imensa dor que sentia nessas horas, a dor da rejeição... na escola primária... no ciclo... no liceu... na faculdade... e por isso acho que virava "elitista" só me dava com quem eu queria... até ao dia em que essa pessoa me magoava e claro... como sempre fui a vítima, lá ia eu outra vez ao bloco de notas com a minha borracha e apagava todas as inscrições, e memórias...

Hoje no exercício nº4 do curso, senti esse padrão, essa vontade de apagar o que me doi.

Na realidade eu nunca aceitei a dor desses momentos e como fui sempre a vítima e os outros os culpados fui tentanto eliminá-los da minha vida na esperança de eliminar a dor.

Hoje em dia sei que o que fiz... projectei a dor... ele/ela são os responsáveis por isso, e como tal se eles não estiverem na minha vida eu não me vou lembrando disso... não vou sentir o quanto doi.

Mas a vida vai pregando rasteiras quando tentas correr num caminho acidentado, onde é suposto só caminhares e olhares a paisagem e como tal... a rasteira está-me a mostrar que...

... aquela página que apaguei e escrevi por cima, ainda continua com as marcas das frases antigas... ainda lá estão as mesmas letras que formavam as mesmas palavras... que todas juntas escreviam a mesma história... na realidade a dor continua aqui... no meu peito.

Ao não aceitar passar por ela eu não estou a aceitar o presente pois fiz exactamente o mesmo há nem uma semana atrás.

... E lá foi o número de telefone... E lá foi o contacto de e-mail... E lá foram os sms e as mensagens... E lá foi o cartão... foi tudo!... menos a dor, essa ficou cá para Hoje!... para hoje me contar uma história... a mesma história de sempre...

apercebi-me que ao não aceitar essa dor, nunca aceitei o que aconteceu... estive sempre em negação... e a pergunta era sempre a mesma - Porquê?!!!... e continuava a não chorar de ter sido assim!!!!!!

Foi assim!Foi assim! Não foi de outra forma!Foi assim! Não vai ser de outra forma!Foi assim!Sem tirar nem por uma virgula!Foi assim!Foi assim!

E até eu ir a esta dor, as vezes que forem necessárias... não será de outra forma.

A que é que esta atitude levou... levou-me a não viver o presente e porquê? porque quando doi eu não aceito essa dor, então se não aceito que foi assim... se não aceito a dor dessa realidade... eu não aceito A Realidade! Eu não aceito a Vida!

Se não choro as "más" como vou reconhecer as boas?... desta forma passo a vida com o coração fechado.

Naquele bloco nunca a escrita se manteve com uma história... nunca escrevi um capítulo diferente... o capítulo onde chorava de tristeza de ter sido assim e de ter falado com essa pessoa sobre isso... eu sempre me fechei, sempre me isolei e dessa forma... expulsei essas pessoas da minha vida...

já sinto que falo, e vou chorando alguma dor...

... e agora espero conseguir escrever o capítulo seguinte...

... sem apagar nada... sempre a relembrar... a agradecer a cada uma das pessoas que passaram na minha vida e que na realidade foram elas que escreveram...

... no meu bloco de notas...

(Aqui escrevo também as minhas desculpas por estes "apagões", por este afastamento, estou a tentar arranjar mais recursos para a minha caixinha de soluções... para viver de forma diferente... para fazer uma coisa diferente... para variar...

... para não gastar tanta tinta... lol...)

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